Fabio Awards: Cinema 2011 (2)

 

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Pelas mais diversas razões terminei não fazendo algumas explicações sobre os meus filmes favoritos de 2011, mas aproveitando os indicados ao Blog de Ouro e a fadiga da Oscar season (aposto que ninguém aguenta mais falar de The Artist, The Help, etc…) vale a pena relembrar aquilo que mais me marcou em cada um deles – você pode querer a cédula com indicados e vencedores aqui)

Árvore da Vida nasceu problemático desde o papel, nunca poderia tal ambição resultar em um filme (visto como) coeso. Suas interpretações corriam sempre o risco de cair em uma: a) leitura literal e boba, incapaz de perceber as nuances e sutilezas de Malick ou b) numa leitura pedante e exagerada que quer enxergar filosofia onde não tem. A linha é realmente muito tênue, e reflete o quão bagunçado o filme parece ser (ou é?), já que seu objetivo (tão grandioso ou seria apenas indefinido?) parece atirar para todos os lados. Não vou defender uma homogeneidade porque ela não existe em Árvore da Vida, mas é como se o filme conseguisse viver muito bem com todas suas falhas (e elas existem, em geral, muito explícitas, nas partes com o Sean Penn). É divino, intricado, visceral até, embora também seja tão doce em como lida com toda sua megalomania narrativa.

Em direção acabei por premiar Nicolas Winding Refn por uma visão tão específica e crucial para Drive. Seu sucesso está justamente em seu estilo: genial na estética, mas não menos perspicaz em essência. Refn entende o que seu filme precisa, mas não perde tempo em enfeitá-lo com uma série de adereços que muito longe de supérfluos, caracterizam-no e impedem que o filme caia num lugar comum. David O. Russell, meu runner-up, faz parecido numa proporção ainda maior, porém mais sutil e menos crucial. Joga filmes de boxe ao avesso, dando à O Vencedor um pulso totalmente intrigante e diferente. Não é um filme de boxe qualquer, ele ganha personalidade nas mãos de um autor que sabe conduzir seu elenco e sua obra. Só ele para saber lidar com o white trash americano, as ditas caricaturas. Tratá-los como quem são, sem por isso menosprezar sua presença mesmo que por vezes tudo pareça uma piada.

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Nas categorias de atuação, se por um lado tivemos dezenas de atrizes dignas de indicação (minha eterna tristeza por não encontrar espaço para a Kristen Wiig aqui, ainda que tenha acolhido seu roteiro), os atores eu poderia facilmente passar em branco. Ryan Gosling venceu com folga, porém, não sou de subestimar o James Franco como muitos têm feito ultimamente. Kirsten Dunst teve a performance que provavelmente será o turning point em sua carreira, mas o ano era da Nicole Kidman mesmo.

Já falei muito dela, ou pelo menos parece que passei o ano todo pensando e relembrando sua construção impecável. Os méritos se dividem aqui tanto para o roteiro (que foi vencedor em sua categoria) quanto para a Kidman. O filme como um todo é muito eficaz em, antes de tudo, encarar o luto e a tristeza. A abordagem é objetiva, embora seu impacto e suas repercussões não sejam minimizados por tal postura. Pelo contrário, parece um dos poucos filmes capazes de tratar o luto não como um evento, não como um acontecimento, e sim como um sentimento não delimitado, indefinido, muitas vezes abstrato, que momentaneamente é percebido em uma ou outra ocasião em seu proprietário. O luto não vai definir Becca, mas vai moldá-la. E existe tanta precisão, tanta certeza em como Kidman vê essa mulher, em como ela entende o que é preciso expor para que o público compreenda Becca, mas sublinhando que ela não será desvendada, porque seria muita bobagem de qualquer um acreditar que ela possa ser. O roteiro por si só é brilhante em conduzi-la, mas Kidman transcende o papel. Performance do ano e da carreira de alguém que não precisava de mais uma para se confirmar como a melhor.

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Nos coadjuvantes, Christian Bale e Melissa Leo (ainda na dúvida entre ela ou Amy Adams) são os destaques e acho que nem preciso me aprofundar porque ambas performances falam por si só. Queria apenas mostrar meu apego ao maravilhoso Christopher Plummer, que está simplesmente genial em Beginners, construindo um personagem de tantas facetas, mas nunca caindo na obviedade ou ostentando piedade (característica que o filme, vencedor em Roteiro Original, carrega tão bem e é sua maior qualidade: amor, tristeza e solidão de forma tão original e sutil, esbanja carisma e não tem medo de ser simples quando se é preciso; o resultado é justamente um caminho totalmente diferente do que muitos melodramas rasos alcançam); e à Mila Kunis, musa subestimadíssima, peça chave em construir o ambiente de paranóia em que Nina se encontrava, Lily precisava ser uma oponente à altura da protagonista, e ela é; existe verossimilhança no medo de Nina porque, dentre outras coisas, Kunis convence como ameaça, porque ela é capaz de transpirar a postura despojada, mas sempre alfinetando a possibilidade de haver algo mais por trás dessa figura enigmática.

Mapeando as demais categorias: o elenco do ano é o de O Vencedor, todos com tremenda sincronia e coordenação, ainda que cheios de idiossincrasias e especificidades; casting bom é aquele que descobre talento onde muitos não encontrariam e Super 8 agradece muito ao responsável pela escolha de todas as crianças do filme (bônus: Kyle Chandler como good cop, parece óbvio, mas não acontece tanto quanto gostamos de pensar); Cópia Fiel sabe muito bem quando começar e acabar uma cena, uma narrativa complexa e muito bem estruturada, flui com tamanha naturalidade, daí o valor de sua edição; Melancolia, fotografia do ano, por tantas imagens marcantes e um visual apocalíptico inesperado e absurdo (bônus: créditos, Justine no mato etc...); sei que muitos não gostam, mas Nunca Me Abandone Jamais merece créditos por sua ambientação, sua história é complicada de se definir em termos de cenários, os elementos de fantasia estão lá, mesclados com os contemporâneos de forma leve, muito bem harmonizada, além de Hailsham e seu ar assustador e certas vezes claustrofóbico, embora sempre aconchegante e acolhedor daquelas crianças; Árvore da Vida vai de mitocôndrias a dinossauros e em todas suas fases é espantoso o quanto de vivacidade seus efeitos especiais têm; cores vibrantes, formatos, cortes e linhas criativas, os figurinos de Um Sonho de Amor comungam muito (e bem) com os diversos tons e sabores do próprio filme; a maquiagem icônica de Natalie Portman como Cisne Negro bastava, ainda temos muito sangue, peles arrancadas, cicatrizes assustadoras e espinhos aqui e ali; Super 8 certamente sabe fazer valer todas aquelas explosões e colisões de trens, usando composições metálicas e agudas, lembrando sempre de deixar o espectador respirar e imergir em seu caos sonoro; Muitas camadas sonoras para se lidar em Árvore da Vida e tudo soa muito atmosférico, perfeita sintonia com o delinear do filme; uma trilha pouco expressiva quando isolada, mas inimaginável visualizar Hanna sem ela, dá pulso e coesão ao filme, além de comunicar muito claramente com os humores de sua protagonista.

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